RUI VIOTTI

 

ENTREVISTA COM RUI VILLARA VIOTTI

 

"Se os diretores de TV não gostarem de tênis, ele nunca será transmitido"?Rui Viotti

Em 1976, ano em que Guga nascia, Rui Viotti trouxe a primeira transmissão de uma partida de tênis internacional para o Brasil, a final masculina de Wimbledon. Amante do tênis, que trabalha há 15 anos em parceria com a Koch Tavares, Viotti passou por grandes emissoras como TV Manchete, Bandeirantes, Globo e Record, onde está atualmente. Nesta entrevista, ele garante que o tênis é um ótimo negócio para a TV aberta, dá boa audiência nesta era Guga, mas conta que as redes a cabo gastam fortunas para ter exclusividade.

O tênis é um bom produto para a TV aberta??Sim, o tênis já deve ser considerado um bom produto para a TV aberta. Na final de Roland Garros do ano passado por exemplo, a Record experimentou um índice de audiência de 2 milhões de espectadores, somente na grande São Paulo, número bastante significativo.

Então por que é tão pouco transmitido por grandes redes como a Globo e a Record??O Brasil tem uma cultura futebolística. O brasileiro não é espectador, ele gosta de vestir a camisa, levar o batuque e torcer. É preciso que a TV acredite e invista para que o tênis seja um grande produto.

Quais são as maiores dificuldades para se incluir o tênis na programação aberta??Não é difícil. Como já fui diretor de programação, artístico e comercial, sei que só é necessário empenho para colocar o produto e adequá-lo ao espaço que a TV oferece. O problema é que ninguém quer ter trabalho. O diretor de programação não mexe na grade por medo de perder a audiência cobrada pelo diretor geral. Se fosse um esporte popular como o futebol, que agrada o grande público, seria facilmente considerado um bom produto pela TV aberta.

Como estão os índices de audiência??Estão bons e os patrocinadores estão satisfeitos. Na Grande São Paulo, o tênis vem atingindo uma média de 320 mil espectadores, porém a audiência não depende somente da transmissão. Os pontos no Ibope são ganhos através de uma série de ações que conduzem o espectador a assistir o evento, entre elas chamadas e destaque na programação. Não se consegue audiência em nenhum produto que se mostre de hoje para amanhã.

Qual a influência do "efeito Guga" nesse processo??O brasileiro quer um ídolo, quer torcer por ele, embora muitos nunca tenham visto tênis na vida. O interesse pelo esporte despertou a partir do momento em que surgiu esse ídolo, conseqüentemente trazendo a audiência.

Qual é o investimento e o procedimento para se comprar um torneio de tênis??Antigamente eram comprados somente os quatro Gram Slams e alguns torneios do circuito Masters Series (antes chamados de Super 9). Hoje qualquer torneio interessa desde que o Guga participe. Embora o Brasil tenha o número 1 do mundo, nem sempre conseguimos comprar esses eventos. As dificuldades cresceram em números assustadores. Torneios que custavam ninharias tiveram um aumento absurdo quando diversas estações começaram a se interessar, não por gostarem de tênis e sim porque o Guga traz audiência.

Como está a concorrência entre SporTV , ESPN, PSN e as redes abertas??A concorrência está enorme. As três emissoras da TV fechada fazem ofertas incríveis e não querem a TV aberta transmitindo os jogos nem em outro horário. Eles pagam um caminhão de dinheiro para anunciar um evento com exclusividade. Na verdade eles querem dizer: comprem minha assinatura ou não vejam este evento!

Qual a qualidade das imagens de um jogo na TV??Existem algumas estações brasileiras que abrem demasiadamente o ângulo da câmera e a bola fica muito pequena para o espectador. O enquadramento da imagem deve ser trabalhado no limite máximo para não se perder o jogador e ficar o mais próximo possível. Apesar disso, acho difícil conseguir melhorar o que temos hoje e não há muita coisa a ser introduzida. O que a Alemanha e os EUA fazem nós também fazemos e é o melhor que pode ser feito. É como a roda, já foi inventada e não tem reinvenção.

O que falta e o que pode melhorar para que o brasileiro acompanhe o tênis pela TV aberta??É preciso que as emissoras acreditem que tênis é um grande produto. Se não investirem ele, obviamente não será. A Record está se colocando com força no tênis, mas não de coração. Se os diretores de TV não gostarem de tênis, ele nunca será transmitido.